O jornal satírico Anorak noticia que a Polícia Portuguesa pretende desafiar a liberdade de imprensa britânica. (Nada mais, nada menos). Pretendem então processar os jornais ingleses pelo modo como (imagine-se) foram tratados. Supõe esta gente, portanto, que isto é viável. Assim, recapitulando, uma brigada de polícia (alegadamente de investigação) não selou o local nem o investigou imediatamente, não procedeu às recolhas senão três meses depois e em locais que não selara, consentindo-se uma escandaleira de comadres na imprensa portuguesa, onde difamou objectivamente os queixosos, previamente e solenemente avisados que não podiam falar em público (ao abrigo do dito “segredo de justiça”)… A imagem dada pelos seus agentes é a de homens que aparecem obesos, mal lavados, arfantes, com a barriga a escorregar para fora das calças, em avental, depois de almoços de quatro horas em dias de serviço, com a camisa aberta mostrando uma pelagem simiesca a cobrir o peito (e por entre a qual emerge uma cruz de oiro), não esquecendo o curioso acessório dos óculos escuros a cobrir os olhinhos pequeninos. Os mais impiedosos notariam ainda o bigode de pontas descaídas a cobrir os cantos dos lábios, luzindo de gordura com origem desconhecida. E, isto apresentado, sentem-se ofendidos com a imprensa inglesa. (É extraordinário). O sentimento de ofensa seria o menos, claro. Mas a ousadia de processarem ou, até, de dizerem que o vão fazer, é hilariante. Não espanta o registo por um jornal satírico. A verdade, não obstante, é que se sentem feridos na sua honra, dizem. No entanto, a honra decorre da beleza do dever cumprido com garbo, como (ainda) dizem os militares. E estes arroubos e rompantes seriam, quando muito, apenas infantilidades (na mais benevolente das perspectivas, benevolência que sublinhamos mas não concedemos). Tudo isto é evidentemente incompatível com qualquer honra. Mas eles que avancem e processem. Logo verão o tratamento que levam. Talvez seja até o modo de perceberem finalmente o que é a liberdade de imprensa. E vamos ver se aprendem isso, de uma vez por todas. Como tencionam eles explicar aos tribunais e à imprensa inglesa a honra de uma brigada de polícia que, não apenas multiplica asneiras imperdoáveis, como, para cúmulo, integra dois polícias arguidos por crimes (incompatíveis com qualquer confiança pública), chefiados por um terceiro que é afastado por motivos disciplinares? Honra, dizem? E falam a sério?... Que pena os advogados portugueses dos McCann serem, também eles, uma ficção (e aliás mais sacrista que católica).
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