Quando conhecemos o João Camossa, pareceu-nos evidente que tivéramos, como Alexandre, o privilégio de conhecer e ouvir Diógenes. Depois fomos vendo que sempre tinha havido João Camossa. Houve o próprio D. João VI a quem a corte tinha de implorar que mudasse de casaca. Houve também o Senhor D. José de Ponte de Lima, Grande do Reino e conselheiro da Rainha, que não fechava a porta do paço (esvaziado de criadagem) por não ver nisso utilidade. Mesmo depois de um mendigo instalado nas dependências onde ele próprio vivia lhe dizer -"arranja outro sítio, que aqui cheguei eu primeiro". (Só a guarda resolveu o equívoco, não houve outro modo do mendigo acreditar que falava com o marquês). Também na República houve um João Camossa, mais conhecido por Brito Camacho a quem certo dia uma alma generosa meteu na mão umas moedas de esmola, à porta da Brasileira. O Chiado ficou suspenso, esperando a explosão por vir - Brito Camacho não se caracterizava pelo temperamento de homem doce - mas o chefe republicano sorriu e disse simplesmente -" seja pelas alminhas". Não podia deixar de haver, também, um João Camossa chamado João Camossa. Convidado um dia para jantar por amigo recente, pareceu fazer-se esperar longamente. E o amigo interrogou a mulher: "É estranho o João não ter aparecido ainda, ninguém bateu à porta entretanto?"... -"Não, não, só um mendigo". Era o Camossa. Evidentemente. A dona da casa dissera-lhe, fechando-lhe a porta na cara -"tenha paciência". Ele assim fez. Esperando que a porta voltasse a abrir. Sim, o Diógenes. Ou algum gémeo espiritual (e idêntico) por ele. Noticiaram todavia que morreu. (Há ideias francamente estúpidas).
Tuesday, October 23, 2007
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