Há diferenças significativas entre o Ensino Público Português e o de qualquer outro lado. Em França, os príncipes da casa de Orléans puderam inscrever o herdeiro no Liceu Henri IV (quase ostensivamente). Em Portugal a simples classe média foge do Ensino Público e toma-o por suspeito, inepto, amputante, incapacitante. Com razão. Mesmo os migrantes europeus sentem isso. Os russos formaram uma escola para eles (e para os cossacos da Ucrânia), por entenderem que o ensino local das matemáticas está abaixo de qualquer nível aceitável. Nas olimpíadas das matemáticas, com efeito, a grande aspiração dos portugueses é, como regra, a de não ficarem em último lugar. Conclusões próximas às deste diagnóstico são ouvidas aos membros mais ilustres da comunidade romena. Com um número impressionante de doutorados e doutorandos neste território, a comunidade romena preocupa-se com os rapazes e raparigas que aqui têm concluído o ensino secundário ou o frequentam. E os problemas notados já não se restringem à matemática. A própria aprendizagem das línguas é irracional. E notam que os garotos e garotas da Roménia concluem aqui o secundário sem noções suficientes da história política, cultural e económica do país hospedeiro. Tão pouco vêem informação suficiente sobre a cultura anglo-saxónica, ou sobre o universo cultural greco-latino. Querem também eles uma escola nacional para as suas crianças, ao menos enquanto aqui estiverem. E entre os búlgaros, em menor número embora, ouve-se o choque com o arbítrio das classificações. Depreciar a classificação de uma criança por não ser “participativa” (embora saiba o que se pretende que soubesse) é coisa a revestir a tais olhos aspecto de puro arbítrio e tem tido como resultado o facto de não raras crianças se sentirem humilhadas e, simplesmente, quererem regressar ao seu país. (Uma nota baixa é desonra para uma criança eslava ou romena, mas que se sabe da honra nesta terra?)… Portanto no Ensino Público a pedagogia é nula e a didáctica muito má. E campeia o arbítrio por modo cruel e humilhante com frequência (como em todos os sítios onde não há critérios de acção). Depois – como a generalidade dos ineptos funcionários locais - aqueles para-funcionários sentem-se deuses. Se não fosse trágico seria hilariante. Um doutorado romeno em psico-pedagógicas ousou certa vez sugerir ligeiras alterações metodológicas à escola da filha e foi tratado pelo imbecil licenciado a quem se dirigia, como se fosse um “imigrante” atrevido. E este é outro aspecto interessante. Acima da licenciatura não há migrantes. Por outro lado, os migrantes europeus não têm – felizmente - qualquer experiência de estratificação social. A ideia em cujos termos o filho de um camionista deve andar, estar, falar e olhar como filho de camionista, por exigência “canónica” da lunpen-burocracia a parasitar o funcionalismo, isso é coisa que não só os migrantes europeus não entendem, como não lhes passa pela cabeça. (Felizmente). Não é portanto “apenas” a classe média que sente o Ensino Público como uma nódoa no secundário. Resta a questão dos colégios privados. Dir-se-ia que eles são os primeiros no “ranking” de coisa incerta. Os programas são comuns. Os livros são os mesmos. E uma e outra coisa comportam chorrilhos de asneiras e deficiências sem fim. Nos colégios privados eles lá vão adestrando as crianças nas figurinhas do pretensiosismo que os “outros” hão-de tomar por padrão. Mas o único ensino secundário a ponderar no território é o espanhol, o francês, o inglês, o alemão e o russo. (O americano também não conta). O facto de , sistematicamente, Portugal ficar no último lugar da União Europeia nas avaliações educativas significa, tão simplesmente, que os níveis qualitativos alcançados não merecem ponderação no plano da União. E o facto da maioria dos empresários não ter sequer o secundário, parece significar que se o tivesse nem com essas iniciativas empresariais poderíamos contar. A maioria dos empresários - sem as defesas da boa preparação embora - preservaram uma qualidade que o secundário à moda da terra procura matar (e mata) na maioria dos casos imediatamente: a capacidade de autodeterminação. Um dos significados do gráfico acima reproduzido é que a independência como projecto e condição é manifestamente contrariada nesta pseudo-educação. Temos um secundário e um superior a funcionar para a dependência. Assim sendo, no secundário é tudo lixo. Mas continuamos - e continuaremos - a esperar que alguém, alguma vez, o entenda. (Se ainda houver tempo para tanto, o que se não dá por demonstrado). Até isso ser entendido é melhor mandar os garotos frequentar outras escolas. As galegas e castelhanas são a melhor ideia mais à mão (à condição de se manter à distância a igreja de Franco). Francisco Louçã tem pois razão em protestar. Mas talvez já não a tenha completamente no concreto protesto formulado. É natural. Em terra onde não há tino, todos os protestos tendem naturalmente a ser desatinados. Numa coisa estamos porém de acordo: subsidiar a Opus a pretexto da educação é ideia repugnante em si própria.
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